domingo, 13 de novembro de 2011

Barcelona - A Magia de formar Craques

Todo admirador da atual equipe do Barcelona, considerada por alguns como a melhor do clube na história, sabe que grande parte do elenco é formado nas canteras de La Masia, QG das famosas categorias de base blaugrana – dos 24 atletas que já entraram em campo na temporada 2011/12, 13 eram crias do Barça. E o início da virada na história culé se deu em junho de 2008, quando Josep Guardiola assinou seu primeiro contrato como treinador profissional do clube catalão e incrementou, gradualmente, mais jogadores formados no clube além dos consagrados Puyol, Xavi, Iniesta e Messi.
Também revelação do clube, o qual defendeu entre o início das décadas de 90 e 2000, o treinador promoveu uma “limpa” em relação aos protagonistas do antecessor, Frank Rijkaard: saíram medalhões como Giuly, Ronaldinho e Deco para a entrada gradual de vários jovens da geração nascida entre 1987 e 1988.
Seja ela oriunda do Barcelona B, que ascendeu da Tercera División (equivalente à quarta divisão da Espanha), como Sérgio Busquets, Jeffrén e Pedro, seja ela de egressos ao clube, casos do zagueiro Gerard Pique – que se aventurou no Manchester United e Zaragoza - e de Cesc Fàbregas, recontratado junto ao Arsenal nesta temporada. Além, é claro, do precoce Messi, outro /87. Porém, o argentino já havia brilhado pela filial blaugrana em 2003, quatro temporadas antes dos colegas de geração.
Sementes de Pep se espalham
Se Pique e Fàbregas pularam etapas na base do Barça e foram terminar sua formação como atletas na Inglaterra, seus companheiros tinham uma missão árdua pela frente: reerguer o recém-rebaixado time B, assumido por Guardiola no início da temporada 2007/08. E esta seria sua primeira experiência como técnico, pouco tempo após a aposentadoria definitiva dos campos como atleta, em 2006.
A competição, dividida em 18 regiões espanholas, classificaria quatro equipes aos playoffs. Já a fase final se daria com grupos eliminatórios de quatro clubes (cruzamento dos vencedores das semifinais), com o vencedor subindo de divisão. No grupo da Catalunha, os culés terminaram a fase classificatória com 83 pontos em 38 jogos. Nas eliminatórias, um empate e três vitórias sacramentaram a campanha do acesso.
Com Guardiola, vários jogadores daquela equipe - em sua grande maioria /87 e /88 - subiram com o técnico e tiveram chances na equipe de cima. Mas alguns dos protagonistas do elenco que devolveu o Barça à Terceirona não conseguiram a mesma ascensão meteórica de Pedro e Busquets, por exemplo. Alguns continuam defendendo a equipe B, que está na segunda divisão espanhola – pelas leis, um clube não pode ter duas equipes na divisão de elite. Outros acabaram parando em clubes de menor expressão ou ainda não estouraram definitivamente para o futebol.
Autor do gol contra o Barbastro, que coroou a campanha de apenas cinco derrotas em 42 jogos no total, Victor Vázquez (janeiro de 1987) – que já havia estreado pela equipe de cima – marcou nove tentos na campanha vencedora de 2007/08, mas nunca teve status de estrela emergente. Perambulando entre os times A e B, só marcou seu primeiro gol pelo Barcelona principal em dezembro de 2010, contra o Rubin Kazan, em partida da fase de grupos da LC. Em busca de espaço, o atacante de 24 anos assinou com o Club Brugge, da Bélgica, no início desta temporada.
Jogador de maior destaque entre os pupilos de Pep até então, o hispano-venezuelano Jeffrén Suárez (janeiro /88) teve destino diferente do seu parceiro de ataque. Após os 6 gols em 30 jogos em 2007/08, o jovem avante logo foi promovido à equipe A assumida por Guardiola, na qual foi um dos destaques daquela pré-temporada, atuando nas sete partidas do Barça e anotando dois gols. Porém, o excesso de lesões e o posterior espaço ocupado por Pedro Rodríguez (que chegaria até a Espanha campeã mundial de 2010, ao lado do companheiro Sérgio Busquets) abreviaram sua trajetória na Catalunha. Após 28 jogos e três gols em três temporadas, Jeffrén foi para o Sporting, de Portugal, no início desta temporada, onde ainda não se firmou pelo mesmo problema no time blaugrana: o excesso de lesões.
Capitão em quase todas as equipes de base do Barcelona, o zagueiro Marc Valiente (março de 1987) buscou novos ares logo após o acesso, optando por defender o Sevilla Atletico, time B do Sevilla. Porém, a transição ao time de cima dos rojiblancos não aconteceu, com apenas três jogos entre 2009 e 2010. De lá, acabaria rumando ao Valladolid, da segunda divisão, onde é regular entre os titulares. Mas ainda sem se destacar.
O goleiro Oier Olazábal (janeiro de 1989) foi o titular naquela campanha vitoriosa de 2007/08, mas ainda continua com o time de baixo. Dentro da ingrata profissão de arqueiro, precisa esperar as ausências do titularíssimo Victor Valdés e do veterano José Pinto para novas chances entre os profissionais. Em três temporadas, esteve em apenas dois jogos na meta profissional blaugrana e ganhou a promoção a terceiro goleiro de Guardiola na última temporada, com a saída de Albert Jorquera. Atualmente, briga com Rubén Miño, poucos meses mais jovem, pela titularidade da filial catalã.
Efeito dominó de qualidade
Com a chegada de Pep Guardiola na equipe principal, a medida que valorizou os novos talentos de La Masia teve efeito imediato na filial do Barça. Nada menos do que sete atletas campeões no início de junho de 2008 foram fazer a pré-temporada com os profissionais na Escócia, um mês depois: o zagueiro David Córcoles, os meio-campistas Victor Sánchez (que atuou em apenas uma partida com o time B naquela temporada), Busquets e Abraham e os atacantes Victor Vázquez, Pedro e Jeffrén.
Com isso, o sucessor de Pep, o ex-meia de Barcelona, seleção espanhola e atual treinador da Roma, Luís Enrique, foi “obrigado” a promover oito atletas oriundos dos juvenis (/90 e /91): os goleiros Rubén Miño e Jordi Masip, o lateral Martín Montoya, os zagueiros Iago Falque e Andreu Fontàs, os meias Oriol Romeu e Thiago Alcántara, além do atacante Rubén Rochina – Fontàs e Thiago já foram testados por Guadiola nesta temporada, Falqué, Romeu e Rochina já deixaram o clube e estão no futebol inglês.
A evolução dos últimos anos da filial do Barcelona mudou parte do conceito espanhol de “times B”, local onde o desenvolvimento de atletas ainda fica em segundo plano e serve, primordialmente, para encostar atletas não pertencentes aos elencos profissionais e não negociados para outros clubes.
Porém, com o excesso de talentos produzidos em La Masia, parece não haver tanto espaço quanto antes destinados aos pratas da casa no Barcelona, se comparado à época de Puyol, Xavi, Iniesta, Piqué e companhia. Os novos aspirantes blaugranas, cada vez mais, vivem o dilema de esperar por uma chance (não se sabe quando), como Pedro e Busquets. Ou então buscar novas chances fora do clube, como aconteceu recentemente com Oriol Romeu, considerado o sucessor de Busquets. Vendido ao Chelsea nesta temporada por 4,5 milhões de euros, o volante de 20 anos já fez mais jogos pelo novo clube (três, desde setembro de 2011) do que em uma temporada completa como profissional culé.
“Cesc e eu procuramos por desafios no exterior porque nossa progressão no Barcelona havia parado. Nós provavelmente ainda estaríamos no time B, se ficássemos. Na minha posição, havia Thuram, Milito, Márquez e Puyol. Já na de Cesc havia Deco, Iniesta, Xavi e, até mesmo, Gudjohnsen. É bom para o ponto de vista do clube, mas para o atleta significa muitos jogadores lutando pelo mesmo espaço”, já opinava Piqué, em uma declaração à revista inglesa Four Four Two, em abril de 2008, um mês antes de acertar sua volta ao Camp Nou.


andre augusto- contribuição